As inúmeras isenções tributárias se tornaram um grande problema para os Correios

As inúmeras isenções tributárias se tornaram um grande problema para os Correios

As inúmeras isenções tributárias se tornaram um grande problema para os Correios

Ao longo de todos esses anos, houve discussões importantes sobre a estatal, mas a pergunta que deveria valer um milhão é: como os Correios sobreviveriam se não fosse os descontos tributários, ou como a empresa reagiria tendo que competir de igual para igual com outras gigantes do mesmo nicho?


Ficamos presos num impasse: caso não seja privatizada, como melhorar a produtividade do serviço ofertado, e, se for arrendada, de qual modo adaptá-la à nova gestão, que agora terá que pagar impostos.

A realidade é que criamos tantos vícios protecionistas em pequenos setores da sociedade, e os Correios foram um desses, que seria praticamente impossível terceirizar os serviços sem que aumentasse o preço final.


Criamos o vício de privatizar através de apenas concessões e por definição é um modelo monopolista. Para terceirizar e reduzir os preços, teria que ser através da abertura de mercado. Se o modelo de privatização favorecer aumento da concorrência, PODE haver queda nos preços, mas é uma relação bastante indireta.


Proteger um determinado grupo seria motivo para que todo um povo pagasse o pato por um serviço que mereça suas críticas e há muito tempo não tem respostas de como será renovado. São desafios que nossa gestão pública deveria nos elucidar: todos são contra a (PL) 591/2021, mas ninguém explica como melhorar as operações atuais.


Prometo que serei 100% cético e mostrarei dois lados da mesma moeda, serei o mais transparente possível e espero que passem a entender que monopólios, cartéis e interferência política demais fazem mal para qualquer mercado – não só para uma estatal, mas para o movimento das empresas como um todo.

Por que não levar em conta o lucro da empresa dos últimos dez anos

Não seria justo considerar o lucro da empresa se ela tem imunidade tributária. Por uma decisão do Supremo Tribunal Federal, os Correios não pagam impostos. A empresa tem apenas a obrigação de pagar recursos destinados a aposentadoria. Dentro da constituição, há um princípio chamado “imunidade tributária recíproca”. Dessa forma, a União proíbe estados e municípios de cobrarem tributos uns dos outros.


Não pagando impostos como ISS, IPVA, IPTU e imposto de renda, a estatal tem um alívio de R$1,6 bilhões, em média. Essa folga de caixa é uma cortina de fumaça sobre sua posição financeira. Um gráfico do Blocktrends quebra um pouco essa falsa narrativa.

Se a empresa pagasse impostos, ela teria um prejuízo de R$15,1 bilhões nesses 10 anos. Um ponto interessante deste gráfico seria a quantidade de dinheiro que deixou de ser arrecadado e poderia ser reinvestido. Por ano jogamos fora um orçamento de tecnologia ou orçamento de saneamento básico para manter a empresa em pé. É muito dinheiro desperdiçado.

Brasileiros pagam 224 milhões de reais para manter a estatal

Depois do rombo deixado na empresa, ela precisou contrair crédito de R$750 milhões com o Banco do Brasil para assegurar suas operações. Mesmo com a linha de crédito entre 2015 e 2017, ainda não foi o suficiente; de dois anos para cá, a empresa recebeu R$224 milhões de aportes do Tesouro para continuar operando.


A situação atual é tão delicada que os Correios passaram a ter dificuldades em quitar obrigações de curto e longo prazo, há um enorme potencial em entrar nos grupo das estatais dependentes do Tesouro. A União passará a arcar com os custos totais da empresa e ela terá que entrar no orçamento do teto de gastos.


As proteções para a empresa se tornaram um grande calo. É sim utópico alegar que o foco da estatal não seja gerar lucro. É quase impossível fazer uma gestão eficaz onde os custos fixos da empresa já consomem 85,18% da venda líquida; os ativos já só estão servindo para pagar dívidas: 98,7% totais e, a curto prazo, a 33,25%.


Esse seria um dos problemas de tantas greves nos últimos 10 anos (12 greves, 211 dias fechados). O operacional quer melhores condições de trabalho, mas é inviável sem lucro, sem reinvestimento, com baixa receita. Desde 2014, a empresa não entrega dividendos à União.

Realmente o preço final do produto seria mais caro?

Não dá para prever uma situação como essa, mas posso dizer que já quebramos paradigmas sobre aumento de preço com a privatização. Quando o setor de telecomunicação foi privatizado no país, havia esse enorme murmurinho sobre o preço e hoje se nos mostra o contrário. Como a quebra do monopólio fez bem para esse setor, acabou com toda a burocracia e todos têm acesso a tecnologia a um custo bem acessível.


Ficamos presos num debate sobre entrega de cartas em pleno século XXI, além de ser um serviço já ultrapassado. As vantagens com a privatização seriam a parte logística – e, quanto a isso, o mercado já tem aberto concorrência há bastante tempo.

A Amazon e recentemente o Mercado Livre adotaram uma frota gigantesca principalmente pela deficiência dos Correios nesse nicho: todos os clientes dessa empresa pagam o frete da maneira que é sugerida pelo entregador com um custo acessível.


A questão central não seria criar concessões e sim repassar o serviço para qualquer um que queira arrendar e quebrar o monopólio, como é feito no setor de comunicação. Se apenas um detentor possuir o poder central de como será ou não feito determinado tipo de trabalho, dificilmente os preços tenderiam a diminuir.


Temos exemplos que deram certo: Alemanha, Holanda, Suécia, Áustria, Bélgica, Japão e Malásia, cases de sucesso de quebra de monopólio e privatização.

Privatização da empresa seria inconstitucional?

É totalmente legal a desestatização da empresa. Dentro do próprio PL 591/21, não se trata da privatização geral da estatal; será feita uma transição onde ela passará a ser uma empresa de economia mista. Sendo assim, a União ainda continua sendo acionista minoritária.

O projeto teve uma elaboração tão bem detalhada que durante cinco anos a União ainda terá uma pequena exploração em alguns serviços. Isso permite uma readaptação da sociedade sobre o novo serviço prestado.


Houve ruídos na comunicação e alguns mal-intencionados, mas fiscalização, regulamentação, auditoria ainda ficam sob controle da União. Atividades, gestão e funcionamento são transferidos para a iniciativa privada.


Recentemente, temos casos surpreendentes quanto a como as estradas, o quanto as malhas rodoviárias melhoraram com os pedágios. O problema de preço e custos é algo que os políticos precisam resolver no país através da diminuição da carga tributária. É difícil gerir uma empresa com tantos penduricalhos. As rodovias são mais difíceis por conta da concorrência (complicações em construir uma estrada ao lado da outra) e ainda assim temos evolução.

As pessoas questionam o preço do pedágio, mas não reclamam da qualidade do serviço ofertado. Com a gestão atual, temos os dois problemas. Tornou-se caro, a qualidade diminuiu, o próprio Sedex – que era para ser um programa com entrega mais rápida – vem deixando de fazer um trabalho de qualidade; temos a Amazon, que consegue fazer entrega em determinadas regiões com três dias. Os Correios não são tão exclusividade assim.

Adiamento do texto 591/21 para 2022

É triste a falta de interesse da nossa classe política em analisar o texto que traz melhorias para a estatal. Como foi explicado acima, a empresa tem muitos penduricalhos que, na gestão do Estado, são bem difíceis de ser resolvidos.

Em ano eleitoral, as atenções estão voltadas para outros holofotes.
Estão pegando um lucro fictício e demonizando a construção de algo simples, que seria tirar o monopólio da empresa e torná-la uma estatal de capital misto. Essas divisões de blocos são o que torna tudo complexo por aqui. Em estudo feito pelo professor Marcos Mendes, do Insper, aponta que em economias menores é mais fácil a aprovação de qualquer tipo de reforma.


Defendemos um mundo imaginário que só é alimentado através da ilusão. O brasileiro precisa de uma dose de realidade. É como diz Thomas Sowell: “Os erros podem ser corrigidos por aqueles que observam os fatos, mas os dogmatismos não serão corrigidos por aqueles que estão apegados a uma visão.”

Fontes:
Correios: governo federal considera Alemanha como exemplo de privatização
Correios: brasileiros pagam 224 milhões de reais para manter a estatal
Correios privatizados? Como funciona serviço em países como EUA e Alemanha
Correios: Entraves legais colocam em xeque ideia de privatizar 100%
Correios tiveram 12 greves e 211 dias paralisados nos últimos 10 anos
Como foi a privatização dos correios na Alemanha
Os Correios não pagam imposto. E isso virou um desafio para a privatização

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