O papel do líder no futuro

O papel do líder no futuro

O papel do líder no futuro

Se você leu “A Insustentável Leveza do Ser”, deve se lembrar de Sabina, a jovem que, ao perceber que seu amado Franz largará tudo para ficar com ela, simplesmente desaparece sem deixar vestígios. A personagem de Milan Kundera foge do comprometimento, da relação fixa, com medo dos limites que poderiam ser estabelecidos. E, na verdade, não apenas por medo, está submersa em um fenômeno de repetição de um padrão de comportamento durante toda a vida.

Apesar da obra do escritor tcheco se passar na década de 70, esse tipo de atitude se assemelha bastante com o que vemos hoje na sociedade. Dados do Ministério do Trabalho e Previdência do Brasil mostram que 25% dos jovens de 18 a 25 anos permanecem em uma empresa por menos de 3 meses

Talvez, a rapidez com que os avanços tecnológicos se impõem influem também numa espécie de fluidez nas relações com as pessoas, com os objetos e até com o trabalho. Em 4 ou 5 anos, as coisas consideradas modernas já se tornaram ultrapassadas. Sempre há algo mais novo, mais avançado, com mais recursos, ou simplesmente algo na moda. 

O fato é as opções serem tão variadas e evoluírem com tanta rapidez que é um fardo escolher, seja um celular, a faculdade ou a carreira profissional. Essa variedade de opções, aliada a uma geração que não tem certeza do que quer, tem gerado falta de comprometimento, alta rotatividade e ausência de pertencimento, o que acaba afetando o bom funcionamento das empresas. Sem mencionarmos os índices de comorbidades psíquicas. 

Assim, alguns questionamentos me soam urgentes: como despertar o senso de comprometimento dos liderados? Como estabelecer conexões reais, vínculos duradouros e sensação de pertencimento? Como manter as pessoas motivadas? Que modelo de liderança conseguirá atingir esses objetivos?

Na liderança do futuro, é imprescindível a capacidade de motivar e extrair o melhor de cada um. Com base nesse pressuposto, posso destacar três características essenciais do líder de sucesso nesta era tão tecnológica quanto volúvel.

O líder do futuro estimula a autonomia

Esse gestor estabelece um modelo de liderança que estimula a criatividade e a autonomia. Está sempre atento e envolve a equipe nos projetos. Permite que decisões sejam tomadas sem que obrigatoriamente passe por sua aprovação e encoraja a proatividade. O resultado disso são processos mais rápidos, econômicos e eficientes. Não significa que o dirigente esteja alheio à tomada de decisões importantes, mas que tem o feeling para saber quais decisões ele pode delegar e em quem pode confiar. 

Além disso, o líder ideal procura tornar o ambiente propício à criatividade. Novas ideias sempre são estimuladas e a equipe não sente medo de falar o que pensa para melhorar a produtividade. Nenhuma ideia é rejeitada de imediato, mas encorajada a ser melhor construída, amadurecida. Steve Jobs acreditava que “a criatividade é a arte de conectar ideias”. Então, uma ideia que de início não aparenta ser tão animadora pode se tornar o ponto de virada para um projeto ou para o crescimento da empresa. 

O líder do futuro preza pelo ambiente colaborativo. Deixa de avocar tudo para si, delega responsabilidades e permite que sua equipe crie. Isso gera uma sensação de valorização dos colaboradores, que se sentem importantes no processo executivo e criativo da empresa. Ter sua voz ouvida e ser considerado parte do time faz com que as pessoas se dediquem mais e entreguem melhores resultados.

O líder do futuro extrai o melhor de cada um

O verdadeiro líder é um gestor eficiente e sabe quais habilidades seus colaboradores têm. Assim, aloca seu pessoal na função que desempenham melhor, enxerga o potencial adormecido e ajuda o colaborador a desenvolvê-lo. 

Assim, não só os resultados são ampliados, mas também o crescimento individual. Para isso, é importante que o líder ouça, perceba e entenda sua equipe. Stephen Covey, autor de “Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes”, coloca a comunicação, no sentido de compreender o outro, como um elemento crucial para o sucesso. Quando se cria conexão com os liderados, é possível entender melhor seus anseios, virtudes, medos e qualidades, o que pode ser usado para potencializar produtividade e aumentar habilidades. 

Além disso, aproveitar o que cada um tem de melhor a oferecer, dentro da sua individualidade, é um desafio e tanto. É muito mais fácil estabelecer padrões e tentar encaixar as pessoas neles. Mas o bom líder vê além. Sabe identificar, potencializar e utilizar as habilidades do seu pessoal de maneira que duas conquistas sejam alcançadas juntas: obtenção de bons resultados e progresso do desempenho individual. E quando o colaborador consegue executar um serviço de excelência, guiado por uma boa gestão, passa a acreditar ser importante para o grupo e que consegue produzir com qualidade. Afinal, quem não se sente bem quando faz um trabalho fantástico?

O líder do futuro desperta propósito na equipe

O líder deve atribuir sentido ao que a equipe está produzindo. Por que estamos fazendo isso? Qual o objetivo? Uma equipe com propósito é uma equipe mais motivada. Esse “porque” vai além do lucro que a empresa terá e do salário que o colaborador receberá. Hoje as pessoas precisam de um propósito para o que estão fazendo. Julie Zhuo, ex-vice-presidente de design de produtos do Facebook, em seu livro “Os bastidores de um líder”, diz que o propósito “exige primeiro que você se entenda e que acredite naquilo que faz para, depois, compartilhar esse sentimento em todas as ocasiões possíveis – da redação de e-mails ao estabelecimento de metas; da conversa com um único funcionário a uma reunião de larga escala”.

Estabelecer um propósito para todos os seus colaboradores exige que você, antes de todos, acredite nisso. Vamos usar um exemplo. Se minha empresa produz suco de laranja, apesar de meu objetivo principal ser o lucro, meu propósito poderia ser fazer com que as pessoas consumissem mais vitamina C. E, eu acredito que isso pode ajudar os outros. Então, cada suco vendido melhoraria a saúde das pessoas. Os colaboradores, aderindo às ideias, estariam comprometidos com algo maior do que os seus salários ao fim do mês, ou uma promoção, ou bônus de fim do ano. Estariam todos unidos em prol de algo maior, ou seja, um propósito. 

O propósito dá sentido ao trabalho, fortalece o compromisso e engaja as pessoas em torno dele. Por que estamos aqui? Qual nosso objetivo? Não é essa a pergunta central que toda humanidade faz desde que o mundo é mundo? E por que diferiria no ambiente laboral? As pessoas precisam de algo maior e o líder do futuro deve ter isso em mente. 

Nova cultura de liderança

Mas isso dá certo? As empresas do Vale do Silício, desde muito tempo, têm uma cultura muito forte nesses aspectos. E quem nunca sonhou em trabalhar para uma das gigantes que de lá saíram? A inovação está totalmente atrelada a novos métodos de gestão. E esses métodos podem ser aplicados desde a pequena empresa ao grande negócio. 

Para atender essas novas demandas no ambiente de trabalho, precisamos de um novo olhar, um novo modelo de liderança, que estimule a autonomia e a criatividade, se adapte bem em ambientes complexos, extraia o melhor de seus colaboradores e lhe dê um propósito. Que os faça implicar-se com um ideal, aguce seu intelecto, lhes ofereça desafios e, principalmente, os faça querer ser parte da equipe, permanecer, se comprometer e construir um legado. 

Escrito por: Carolina Antunes
Natural de Belo Horizonte, Carolina é advogada, mentora e consultora empresarial em treinamento de lideranças e atual Diretora Executiva do IFL Brasil.

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