Por que o Brasil é uma nação majoritariamente pobre?
Não é surpresa para ninguém que o Brasil sofre, há décadas, com a pobreza e a fome. E, governo após governo, a situação pouco se altera. Todavia, para além de um debate raso sobre o tema, é necessário expor à toda a população brasileira que muito da insegurança alimentar e miséria é ocasionado por ausência de políticas liberalizantes, gasto estatal ineficiente e pouca iniciativa dos próprios brasileiros. Nos próximos parágrafos, farei uma breve análise sobre o porquê continuamos nessa condição subdesenvolvida.
1) Baixa abertura comercial e reformas modernizadoras
Como os dados provam, as nações com menos burocracia, mais facilidade de empreender, menos entraves para contratar e demitir que aplicam reformas estruturais como a tributária, são locais com melhor qualidade de vida. Alguns exemplos de nações recentes em processo de desenvolvimento que conseguiram ou estão conseguindo ascender devido às práticas liberais são: Uruguai, Austrália, Cingapura, Estônia, Taiwan, Hong Kong e Botsuana.
O melhor avaliador internacional de como um país encontra-se em termos de liberdade econômica e desenvolvimento de modo geral é o Ranking da Heritage Foundation, através de um comparativo entre todos os países. O ranking também compila fatores políticos e sociais para o levantamento, como liberdade de imprensa, funcionamento da democracia local e corrupção.
Em 2022, o Brasil encontrava-se em 133° lugar no ranking, sendo considerado um país majoritariamente não livre. Entre os principais pontos negativos, temos I) alta carga tributária, II) impostos sobre consumo – que prejudicam os mais necessitados – e III) serviços públicos de pouca qualidade. Além disso, contamos com irresponsabilidade fiscal, a exemplo do desrespeito ao Teto de Gastos, leis trabalhistas rígidas e produtividade por trabalhador considerada abaixo da média global.
A título de comparação, o Chile e o Uruguai encontram-se nas posições 20° e 34°, respectivamente, e “curiosamente” possuem melhor IDH, maior crescimento econômico e menores índices de pobreza, se comparados com o Brasil. Por que isso ocorre? Pois as duas nações vizinhas adotaram, durante décadas, medidas liberais no campo econômico e estão colhendo os frutos no desenvolvimento social.
2) Educação pública e privada abaixo da média mundial
Se analisarmos o índice PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), perceberemos que o Brasil está “estagnado” há vários anos, sem avanços reais nos conhecimentos básicos de matemática, ciências e português.
No ranking mundial de 2018, o Brasil ficou em 57º em Leitura, 70º em Matemática e 65º em Ciências. Apesar de a pontuação, nas três áreas, ter tido um leve aumento comparado a 2015, não é nada que podemos considerar como avanço. Pois, estatisticamente, essa elevação não é expressiva. Ainda, se compararmos nossos estudantes com a média da OCDE, estamos com um nível educacional três vezes menor.
Dessa forma, e ainda refletindo sobre os impactos que a pandemia de Covid-19 deixou não só na saúde pública como na educação, o trabalho para evoluir e construir o futuro de milhões de jovens estudantes será árduo. Pelas escolas brasileiras terem tido os lockdowns mais severos, nem todas as famílias terem internet de qualidade para acessar as aulas e materiais virtuais e pelo investimento precário do Estado na área, o país encontra-se estagnado.
As nações mais desenvolvidas investiram na educação com gasto consciente, com ensino de conteúdos práticos ao dia a dia (e retirada de outros), reformulação e liberdade na grade curricular para escolas privadas, investimento em ensino técnico para formar alunos capazes de entrar no mercado de trabalho e pagamento de bons salários para os professores, a partir de uma melhor qualificação destes. Aliado a essas ações, também é preciso combater o bullying e uso de drogas pelos jovens nos ambientes escolares, porque tais situações afetam o desempenho acadêmico destes.
3) Pouco incentivo a projetos sociais e caridade como alternativa civil de combate à pobreza
Uma constatação evidente em nossa sociedade é a de que a maioria das pessoas critica a vulnerabilidade de grupos sociais, mas não praticam ações individuais que auxiliem esses indivíduos vulneráveis; ao contrário, aguardam que o Estado e políticos apresentem a solução para os problemas. Se alguma situação incomoda o cidadão, ele mesmo deveria ter autonomia e liberdade de tentar alterar aquela realidade.
É óbvio que a caridade e as ações sociais não irão resolver a pobreza e a miséria, visto que os impactos dessas ações são bem mais restritos. Porém, é um ótimo ponto de partida e linha auxiliar a outros programas sociais, seja de iniciativa pública ou privada.
Infelizmente devido à pandemia, lockdowns e mortes, muitos países, que antes ocupavam o topo dos mais generosos, tiveram uma queda nas doações e trabalhos voluntários por pessoa, o que caminhou junto ao aumento da pobreza observado pelo mundo durante a fase mais aguda da crise. Entre esses países temos os Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Irlanda e Países Baixos.
Agora com a plena vacinação,os cidadãos podem buscar caminhos de desenvolvimento para as suas próprias vidas, ajudando terceiros – se condizer com seus valores, ajudando com doação de alimentos, brinquedos e, principalmente, recolocação no mercado de trabalho.
O Brasil está longe de ser uma das nações mais caridosas do mundo, apesar de ter subido no ranking, ocupando atualmente a posição 54 do Ranking Global da World Giving Index (WGI). Isso, entretanto, não têm relação direta com a população brasileira ser majoritariamente pobre, pois muitos países igualmente subdesenvolvidos apresentam taxas de caridade e ações sociais maiores, como Quênia e Nigéria.
Porém, é preciso tecer elogios ao povo brasileiro, visto que durante a crise sanitária nosso número de doações e ajudas a um desconhecido elevaram-se substancialmente, mesmo com a alta do desemprego. Em relação às doações, o Brasil também teve o seu melhor percentual dos últimos 5 anos com 26% brasileiros doando para alguma organização. Esse é o mundo que funciona, e tais práticas devem continuar sendo incentivadas.
Com isso em mente, esperar apenas o Estado agir, sabendo que os políticos não possuem os incentivos adequados para realmente transformar o “status quo” é uma expectativa fantasiosa. Ao mesmo tempo em que se deve cobrar ações estatais nesse sentido, a própria sociedade pode ajudar o próximo e construir o seu próprio desenvolvimento.
Conclusão
Diante o exposto, o Brasil precisa avançar muito para conseguir, efetivamente, reduzir a pobreza e a fome, por meio de medidas e reformas estruturais, como ampliação da liberdade econômica, a exemplo do Chile e Uruguai, reduzir ou acabar com gastos estatais ineficientes (Fundo Eleitoral e altos salários de políticos), realocando esse dinheiro para a área da educação e, por fim, incentivar ações sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
2022 INDEX OF ECONOMIC FREEDOM. Publicado em 2022. Acesso em 20 de janeiro de 2023. Disponível em: https://www.heritage.org/index/ranking
Portabilis Tecnologia. Pisa: o que falta para o Brasil subir no ranking mundial? Publicado em 2018. Acesso em 27 de janeiro de 2023. Disponível em: https://blog.portabilis.com.br/pisa-o-que-falta-para-o-brasil-subir-no-ranking-mundial/
World Giving index 2021. Publicado em 2021. Acesso em 27 de janeiro de 2023. Disponível em: https://www.idis.org.br/publicacoesidis/world-giving-index-2021/
Escrito por: Matheus Rocha de Almeida Ataide
Voluntário do IFL